História

O nascimento da Fundação Galdino Santana

O projeto da Fundação Galdino Santana foi idealizado, em 1998, por Maria do Carmo Santana Schüller, porém, permaneceu 10 anos à espera do melhor momento para ser implantado.

A seguir, o relato de Maria sobre o nascimento da Fundação Galdino Santana.

Na época, eu era Presidente do Grupo Espírita a Serviço do Amor – GESA, instituição que fundei em 1986, juntamente com meu esposo, Fritz Hermann Vianna Schüller.

O GESA, além das atividades inerentes a um Centro Espírita, desenvolvia uma atividade social relevante, através do DAPSO – Departamento de Assistência e Promoção Social. Dentre as atividades desenvolvidas pelo departamento, uma era a distribuição de cestas básicas às famílias carentes nas comunidades pobres de Salvador. A distribuição era precedida de trabalho socioeducativo para os adultos e outro específico para as crianças.

Periodicamente, realizávamos visitas para acompanhamento das famílias ou cadastramento de outras. Numa dessas visitas, chegamos a uma moradia em situação precaríssima: chão de terra batida, esgoto correndo na frente, três crianças só de camiseta e uma mãe aflita, com um fogão desligado e duas panelas vazias, perto do meio-dia. Saímos abaladas, pois já tínhamos vindo de outras visitas de tanta carência quanto aquela.

Chegando em casa, muito triste, sentei-me para almoçar. A secretária colocou sobre a mesa uma travessa com um peixe inteiro, assado, com legumes em volta. Fiquei paralisada diante da travessa, com as imagens daquela manhã vivas na mente.

Um dos meus filhos, chegou em casa do colégio, aproximou-se da mesa e disse:

– Só tem isso para almoçar?

Eu não contive as lágrimas. Ele perplexo, sem entender nada, perguntou:

– O que foi, mãe?!

Contei para ele as visitas daquela manhã. Nós dois, em silêncio, petiscamos o almoço.

Quero fazer uma ressalva: aquele meu filho é uma pessoa muito generosa. Desde adolescente teve atitudes que demonstraram ser uma pessoa preocupada com o bem-estar do próximo e com a inclusão social. Porém, o mundo que ele conhecia era diferente do mundo daquelas famílias: era o mundo do colégio particular, do curso de idiomas, do esporte, do transporte próprio e das melhores oportunidades que podíamos oferecer para seu desenvolvimento intelecto-moral.

Depois desse episódio, comecei a questionar: o que significa uma cesta básica para essas famílias? Bem verdade que vai mitigar a fome por uns dias. Mas, e depois?

Definitivamente esse não é o caminho, pensei. É preciso dar oportunidade para as crianças e os jovens desenvolverem os seus potencias. São inteligências contidas, por falta de oportunidade para se expressar, e depois, quando crescerem, vão querer marcar seu lugar no mundo, sua presença, serem vistos e respeitados, e como não são competitivos, muitas vezes irão por caminhos ilícitos.

Imaginei que seria bom criar uma Fundação, porque ofereceria maior credibilidade, por ser regulada pelo Ministério Público, mas eu não tinha noção da complexidade de uma Fundação.

Idealizei o projeto, porém, conversando com Fritz, concluímos que aquele não era o momento para iniciar uma obra desse porte. A sede do Gesa tinha sido inaugurada, precisava implantar novas atividades e equipar a instituição.

Em 2008, consideramos o momento adequado para implantação do projeto. O GESA funcionava plenamente, podíamos nos dedicar ao novo empreendimento social. Uma companheira da instituição solicitou à Prefeitura um terreno, enquanto cuidávamos da documentação para registrar a Fundação. Fritz e eu fomos os instituidores.

A tramitação na Prefeitura durou oito anos. Em 2016, tomamos posse definitiva de uma área de 4.050 m², no bairro do Imbuí. A partir dessa data, o sonho de contribuir para a inclusão dos desprovidos de oportunidades tornou-se realidade.

Ressalto que nós instituidores somos espíritas, mas a Fundação Galdino Santana-FGS não tem vínculo com nenhuma religião. A FGS é uma obra social sem preconceito de etnia, gênero ou credo, tanto para os servidores e voluntários, como para as comunidades que serão atendidas pelos nossos serviços.

Maria do Carmo S. Schüller