Galdino José Santana (1857/1943)

Galdino José Santana vem a ser o avô paterno de Maria do Carmo Santana Schüller, instituidora da Fundação Galdino Santana, juntamente com seu esposo Fritz Hermann Vianna Schüller, os quais deram o seu nome à Fundação, por ele representar uma personalidade com princípios e valores e uma visão que estavamà frente do seu tempo.

Os dados sobre nosso Patrono foram colhidos de pessoas que conviveram com ele: Laura Soares de Santana (nora), Maria Hercília Santana (neta), Marita Santana Oliveira (neta).

A Senhora Laura, mãe de Maria, falava sempre de “Seu Galdino” com muito respeito e admiração. Hercília, irmã de Maria, também costuma fazer referências a “vovô Galdino”. As citações aguçaram a curiosidade de Maria para saber mais sobre o avô que não conhecera, por isso, ela passou a registrar, por escrito, as informações.  Posteriormente, viajou até Nossa Senhora das Dores, Sergipe, para conversar com Marita, a neta que fora criada por ele.

Galdino José Santana nasceu em 1857, na sede da Fazenda Santana: uma casa branca, varandas largas e janelas altas, de onde se via o pôr-do-sol, pasto à vontade para belas cavalgadas e banhos no riacho de águas cristalinas. A Fazenda ficava no município de Santa Inês, Sergipe, onde se plantava cana-de-açúcar, café e algodão.

Aos cinco anos de idade (precocemente para a época) demonstrou desejo de ir à escola. A professora Estelita recebeu o esperto menino, de tez muito clara e olhos azuis, no “prédio escolar” da própria fazenda, onde as crianças, filhas dos lavradores, vaqueiros e trabalhadores, estudavam.

Galdino prestava atenção às aulas, aprendia facilmente as lições, revelando inteligência aguçada. Em pouco tempo, passou a ajudar as outras crianças nos deveres de casa. Sempre disciplinado, organizado e cuidadoso com o material escolar, respeitava a professora e os colegas, tratando-os com cortesia e amizade. No recreio, liderava as brincadeiras.  Os colegas o ouviam com respeito, como se lhe conferisse poder para conduzir as distrações infantis.

Desde os oito anos de idade, suas palavras e decisões, seu interesse pelos outros, pela dor do outro, causavam admiração e perplexidade às famílias.

O garoto foi crescendo interessado nos afazeres da fazenda. Cada vez brincava menos e cooperava mais. Tornou-se um homem de temperamento forte, decidido e determinado. Voz firme, vigorosa e timbre alto.

Casou-se aos 22 anos com Maria Luiza (16 anos). Dessa união, teve três filhos. Viúvo, posteriormente contraiu novas núpcias com Maria Evangelina, com quem teve quatro filhos, dentre eles, Manoel Waldemar de Santana, pai de Maria Schüller.

 

Os traços marcantes de sua personalidade:

  • Empreendedor – Começou a trabalhar muito jovem, com o pai. Pensou em uma profissão das ciências econômicas, mas teria de se afastar dos labores da fazenda. Era notória sua inteligência e o tino para administração e economia. A Fazenda tornou-se próspera, chamando a atenção dos vizinhos fazendeiros. Galdino compartilhava com eles seus conhecimentos sobre seca, estiagem, reprodução animal, economia etc. Também orientava os feirantes como armazenar os produtos e fazer a contabilidade, “as anotações de compra e venda”, no dizer deles. Possuiu um engenho na fazenda, e armazéns, em Nossa Senhora das Dores, para estocagem e exportação dos produtos fazendários.
  • Alteridade – Galdino via o outro como individualidade, independente da classe social ou econômica. Na Fazenda Santana os empregados eram alforriados, mesmo antes da Lei Áurea. Quando a Lei foi promulgada (1888) não houve diferença na fazenda. Todos eram tratados com respeito e liberdade, por isso gostavam de “Seu Galdino”.
  • Gosto Refinado – A casa era muito bem cuidada, mas sem ostentação. Galdino gostava de ver a mesa forrada com toalhas de linho bordado, louça fina, pratos decorando as paredes. Ele próprio vestia-se com elegância, mesmo quando ia à feira.
  • Na casa, havia um cômodo onde eram guardados instrumentos musicais, inclusive um bandolim, para os saraus que ele promovia, aos quais compareciam os amigos fazendeiros, pessoas da sociedade de Santa Inês e os trabalhadores da fazenda com suas crianças. O evento era para todos.
  • Generoso – Muitos iam solicitar alimentos ou orientações sobre a vida e encontravam o apoio de que necessitavam. Atendia tanto aos que pediam ajuda, quanto aos que ele sabia que estavam precisando, como o caso de uma família, cujo pai desaparecera deixando esposa e três filhos. Galdino mandava regularmente “a feira” para a família “não passar fome”.
  • Bondoso – Assim as pessoas se referiam a ele. Tinha amorosidade pelos filhos. Embora fosse costume da época o castigo como forma de educação, esse não era um procedimento usado por Galdino:  bastava uma palavra para educar, ou um olhar para ser obedecido.
  • Religiosidade – Galdino costumava, no fim da tarde, ir ao cimo de pequeno monte, próximo do sítio, admirar o horizonte e meditar. Chamava-lhe a atenção uma ave de larga envergadura das asas, que se destacava das demais. Em casa, o oratório tinha lugar de destaque na sala, onde se via o terço que fora de sua mãe e que ele rezava às 18h. Também, costuma frequentar a missa dominical na igreja próxima da fazenda.
  • Desapegado – Nos seus últimos anos de vida, viúvo, vendeu a fazenda e foi morar em Nossa Senhora das Dores. Dividiu os bens com os familiares, comprou uma casa simples para morar e outra para Zefa, a “governanta”, “para ela não ficar desamparada depois que ele partisse”.

Galdino José Santana faleceu serenamente em 1943, aos 86 anos. A cidade sentiu sua partida, foi grande o número de visitantes ao local: os antigos trabalhadores da fazenda acorreram com pesar; os familiares, amigos, negociantes e pessoas simples das feiras dos sábados, todos acompanharam o enterro de “Seu Galdino”.

Galdino deixou para sua família e para todos que conviveram com ele um legado, um exemplo de dignidade, honradez, respeito e amor à vida e ao próximo. Um homem que, no Século XIX, quando não se falava em direitos humanos no Brasil, em inclusão social e respeito às diferenças, agia naturalmente, sem que os bens materiais e a posição social o impedissem de expressar seus bons sentimentos. Por tudo isso, o escolhemos para ser o Patrono da Fundação nascente. Os traços de sua personalidade são os que desejamos desenvolver nas gerações que serão acolhidas pela Fundação Galdino Santana.